“[…] O mais temível da doença da insônia não era a impossibilidade de dormir, pois o corpo não sentia cansaço nenhum, mas sim a sua inexorável evolução para uma manifestação mais crítica: o esquecimento.”
Gabriel García Márquez, em “Cem anos de solidão”.
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Quem quiser assistir à narração em espanhol da passagem completa da peste da insônia, clique aqui. Há legendas em português.
A testemunha
Teatro“A testemunha não é quem enfia por toda a parte o nariz, quem se esforça para ficar o mais próximo possível, ou por intrometer-se nas ações dos outros. A testemunha mantém-se levemente à parte, não quer se misturar, deseja estar consciente, ver o que acontece do início ao fim, e guarda na memória; a imagem dos eventos deveria permanecer dentro dela […] eis a função da verdadeira testemunha, não se intrometer com o próprio mísero papel, com aquela importuna demonstração ‘eu também’, mas ser testemunha – ou seja, não esquecer, não esquecer, custe o que custar.”
Jerzy Grotowski, no artigo “Teatro e ritual”.
Round 6
SériesQuem assina a Netflix ou usa as redes sociais com frequência, dificilmente passou incólume pela série Round 6 (2021). Pode não tê-la assistido, mas sabe que ela existe.
Eu não gosto de filmes e séries de gincanas em que a derrota implica em uma morte. Não assisto, passo longe, não quero saber. Porém, resolvi abrir uma exceção neste caso, pois gostei de todas as obras coreanas que já assisti. A conclusão? Que grande série!
Trailer Round 6 (2021), Netflix, set. 2021.
Não se deixe levar pela primeira impressão ao assistir ao trailer. A série apresenta diversas nuances, muitos questionamentos e dificilmente alguém chegará ao final sem algum incômodo, uma sensação de que estamos perdidos. Muito perdidos.
Round 6 (2021) não é uma série fácil de assistir, mas vale muito a pena, muito mesmo.
A Isabela Boscov, a única crítica que acompanho, fez um ótimo vídeo sobre a série. Quem quiser mais argumentos para assistir, aqui está.
“Round 6”: no jogo da Netflix, os coreanos entram para ganhar, Isabela Boscov, out. 2021.
Agora
DançaAgora (2019), de Cassi Abranches, é uma obra coreográfica criada originalmente para a São Paulo Companhia de Dança. Eu tive o privilégio de assistir ao ensaio na sede da companhia e à apresentação no Teatro Sérgio Cardoso. É um dos meus grandes amores da dança, sou apaixonada por essa obra, e também pelo trabalho da Cassi Abranches.
Pois neste fim de semana, Agora (2019) será transmitida online como parte da temporada 2021 da São Paulo Companhia de Dança, juntamente com o segundo ato do meu repertório preferido, Giselle (1840). As transmissões acontecerão no canal do YouTube da Companhia (aqui).
Quer assistir?
Sábado, 2 out., às 20h, neste link.
Domingo, 3 out., às 17h, neste link.
Atenção: as apresentações não ficarão gravadas, só será possível assisti-las no momento da exibição.
Sério, assistam! Depois me contem o que acharam.
Trailer de Agora (2019), Cassi Abranches, São Paulo Companhia de Dança.
Vida é
MúsicaEu cursei todo o meu ensino fundamental – na época, dividido entre primário e ginásio – em escola pública. Ali foi a base da minha formação. Uma ótima base, é importante ressaltar.
Uma das minhas lembranças mais vívidas é esta música. A minha professora de Ciências da quinta série colocava suas turmas para cantá-la nos eventos escolares ao som do CD. Lembro da voz da menina cantando, lembro de mim no pátio com o folheto em mãos, guardo passagens inteiras de cor.
Pelo que pesquisei, a música faz parte de um CD do MAC – Movimento de Adolescentes e Crianças.
A letra diz muita coisa. E disse muito ao meu coração de criança lá pelos idos da década de 1980.
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Vida é sonhar, ter esperança, é
Amar igual criança, é
Ter paz e ter um pão
Vida é brincar, ter liberdade, é
Justiça e verdade, é
Um mundo mais irmão
Eu queria ver o mundo diferente do que é
Que as pessoas se ajudassem
Que existisse muita fé
Que a mão da gente grande não se erguesse pra bater
Mas com a gente conversasse, ensinando o que viver
Eu queria que meu pai parasse hoje de beber
Não brigasse com minha mãe, tão cansada de sofrer
Eu queria ver o mundo formando um só coração
Eu queria a sua mão segurando a minha mão
Eu queria que meu pai tivesse onde trabalhar
E que minha mãe pudesse ao meu lado sempre estar
Que o dinheiro lá em casa desse pra gente viver
E um pouquinho lá sobrasse para um brinquedo eu ter
Eu queria ver a fome e a violência acabar
Quem tem o poder nas mãos e quisesse me ajudar
Eu queria ver o mundo formando um só coração
Eu queria a sua mão segurando a minha mão.
Não queria ver crianças abandonadas sem um lar
Nem ver pais se separando sem com os filhos preocupar
Não queria ver o preço da comida a subir
Nem tão pouco ver a guerra tantos homens destruir
Sei de gente que podia ajudar e nada faz
Só não sei como consegue dormir cada noite em paz
Eu queria ver o mundo formando um só coração
Eu queria a sua mão segurando a minha mão
“Vida é”, parte integrante do CD MAC Crianças Unidas.
Sonatas
DançaEste vídeo mostra trechos de “Sonatas”, parte integrante do espetáculo Centenario Antonio Ruiz Soler, do Ballet Nacional de España.
Quem achou tão parecido com o ballet clássico, não errou não: esta é a Escuela Bolera, dança espanhola praticamente prima do ballet. Lindo de desmanchar o coração.
Trecho de Sonatas, Ballet Nacional de España, set. 2021.